São Paulo, 16 de Julho de 1998.

Pena! Pena!

O título do meu artigo "País do Futebol" não tem nada de desdenhoso ou de ofensivo. Sinceramente, não acredito que o que acontece de negativo aqui, no Brasil, provenha disso. Não é desdouro. Não é mácula. Apenas aproveitei fato tão inegável para embasar minha oportuna analogia. Justamente porque esse esporte nos representa!

Outra coisa: eu não afirmo que as derrotas não ensinam nada. Muito pelo contrário: essa é a base do meu argumento! Sugiro que aproveitemos esse "baixo astral" para refletir mais lucidamente acerca de temas bastante pertinentes (e que nos afligem com freqüência).

Sobre o caos. Não vou negar que os gurus da administração têm razão: o caos é extremamente positivo para o crescimento de qualquer profissional e de qualquer empresa. No entanto, existem limites, caro Pena. Alguns setores da vida nacional devem funcionar regularmente, sem quaisquer facetas caóticas. São eles: o hospitalar, o educacional, o de segurança pública, o de administração municipal, estadual e federal; dentre outros. Você há de concordar que a desorganização, nesses casos, não é nem um pouco benéfica.

Não vou discutir o MST. Está cheio de gente gananciosa e oportunista — qualquer um sabe disso. Assim como os sindicatos, as agremiações, as academias, as legiões da boa vontade e tantas outras organizações ditas filantrópicas.

Quando falo em líderes, não falo em hierarquia, muito menos em voz de comando. Por quê acha que satirizei os "generais" e também o "Zagalo", compondo o termo "generalóide"? Simplesmente porque desprezo tal sistema, tal autoritarismo.

A tevê de massas é o que há de mais detestável e de mais morfético. Como você pode exultar isso?

Não posso concordar com seu conceito de "manada desgovernada". Apenas com muita objetividade vamos resolver nossos problemas.

Velho Pena, sei dos nossos talentos e das nossas qualidades. Entretanto, não podemos esperar que tudo brote da terra naturalmente. Temos de viabilizar os principais processos para que isso se dê. Temos de tomar partido. Temos de pôr a mão na massa.

Chega de sermos um país de "promessas".

Abraços do

Julio Borges