Objeto Não Identificado

Lendo o Condutor de agosto, deparei-me com mais um daqueles artigos do tipo "Mulheres: Quem consegue entendê-Las?" ou "Mulher: Esse ser incompreensível." ou ainda "O que Elas querem de nós?", etc, etc, etc. Já cansado de ler e reler as mesmas conclusões, teorias, suposições, teoremas, teses (na maioria das vezes, bobagens) sobre o assunto, resolvi dar um pouco de luz a essas mentes tão pobres, a esses colegas tão equivocados, que vagam pelos corredores da vida atrás de respostas às suas perguntas sobre MULHERES (!).

Mulher não é um tipo de máquina programável, para a qual existe um algoritmo ou mesmo um manual de instruções (como diz o título do tal artigo). As mulheres são muito mais do que isso. As mulheres são mentes, idéias, desejos, sentimentos, sonhos, visões de mundo; são universos tão ou mais complexos do que o nosso universo, o masculino. É lamentável encontrar não um, mas dezenas, centenas de politécnicos com essa noção injustificável de que mulher é um tipo complexo de robô que realiza certas tarefas a partir de códigos ou frases-chave. Esses nossos limitados colegas estão em busca do "chaveco" ideal e irrestrito, das táticas infalíveis, do papo irresistível, do "timing" perfeito; enfim, procuram por algo como A Enciclopédia da Conquista by Dom Juan (de preferência em CD-ROM). Ou seja, querem a resposta, a solução para um problema (mulher). Como se as histórias dos grandes amores, paixões, conquistas fossem comparáveis a problemas de Matemática ou Física, de tal maneira que se pudesse criar uma receita passo-a-passo: "Use tal fórmula; se acontecer aquilo, faça tal e tal coisa; se não acontecer é assim, é assado...Se ela chorar, fuja! Se ela sorrir, beije!".

Mulher não é um ser de outro mundo, algo inatígivel, indecifrável, irracional, imprevisível, etc. Um verdadeiro E.T., com uma aura de mistério fantasmagórica. Nosso articulista, como todos os outros que o precederam, usa e abusa dessa premissa básica para desenvolver um raciocínio que o coloca, no fim das contas, na posição de vítima. Algo mais ou menos assim: "Eu sou mais um pobre diabo nas mãos delas que nunca enxergam meu valor. Eu, um bom rapaz, tão estudioso, esforçado, boa gente, trabalhador, interessado não sou reconhecido como tal, e sofro com seus caprichos. Que critérios são esses que elas adotam? Que diabo se passa pela cabeça delas? Por quê não me escolhem? Por quê? Por quê?! Por quê, meu Deus do céu?? (...)". Chega a ser cômico, não é mesmo? Esquece-se de algo tão óbvio, claro, límpido: Esses seres com critérios tão estranhos, com razões tão absurdas, com interesses tão ilógicos são aqueles mesmos seres com quem você sempre conviveu, tão familiares, tão comuns: sua mãe, sua irmã, sua tia, sua avó,... Diga a verdade: Elas são assim tão complexas, ininteligíveis, indecifráveis, tão assim, digamos, além da imaginação? Será que você nunca pensou nisso? Ou será que você acredita que só as mulheres da sua idade, da sua faixa etária são seres de outra galáxia, tão distantes e tão misteriosos?

Mulher não é uma mera fêmea, um pedaço de carne, uma máquina de dar prazer. Da mesma maneira que mulher não é a solução de todos os problemas, o fim dos questionamentos, inseguranças, temores e traumas. Uma mulher é alguém tão simples e tão complicado, tão forte e tão frágil quanto nós, homens. Elas têm também os seus motivos, os seus objetivos, os seus medos, as suas dúvidas. Estão aí na mesma; nem melhores, nem piores. A missão das mulheres aqui na Terra não é confundir os homens. E nem é missão dos homens "entender" as mulheres. É triste esse tratamento de espécime raro e bizarro que muitos homens dão às mulheres. O que não os impede de encontrar num futuro um pouco incerto uma amiga, namorada, companheira, esposa,... aquela que num passado remoto, numa faculdade só de mulheres, possa ter escrito um artigo com o seguinte título: "Homens: Manual de Instruções", no qual dizia: "Se for durão, cozinhe-o. Se for tarado, congele-o. Se for chato: banho-maria! (...)". Como pode-se ver não existe o menor sentido, mas eles continuam escrevendo os mesmos artigos...

J. D. Borges