Update Conheça toda a história do texto e suas repercussões ao longo dos anos baixando o e-book A Poli como Ela é... O Livro. De: Felipe M Pait <[email protected]>Data: Segunda-feira, 15 de Dezembro de 1997 13:33 Prezado Luís Nassif, Como professor da Escola Politécnica da USP achei excelente o seu artigo "Modelo para a universidade," e especialmente apropriada a referencia à crônica do J. D. Borges. As pesadas criticas à Escola Politécnica que o cronista fez ao se formar já tem sido feitas, de forma semelhante embora menos contundente, há mais de uma década pelos alunos, embora tenham sido até agora soberbamente ignoradas pela universidade. Gostaria de adicionar que o lugar onde a má administração das universidades publicas causa as piores distorções e ineficiências é no ensino de graduação. Os currículos são usados como moeda de troca pelos diversos departamentos e laboratórios em busca de maior poder dentro da universidade. Para ficar no caso dos cursos de Engenharia da Escola Politécnica da USP, como quase inexistem disciplinas eletivas, uma vez que um feudo acadêmico consegue incluir uma disciplina obrigatória no currículo ele tem garantida uma audiência. Esta "carga horária" serve como pretexto para a contratação de docentes dentro daquele grupo, reforçando sua capacidade de pesquisa, ou de fazer contratos lucrativos, ou simplesmente sua representação nos órgãos colegiados que governam a academia. Os problemas que isso gera para os estudantes de engenharia da USP são enormes: excesso de disciplinas, muitas com conteúdo de importância discutível para a maioria dos engenheirandos; excesso de horas em sala de aula, o que dificulta o estudo; falta de assuntos não técnicos no currículo. Além disso, muitos alunos são obrigados por perversos sistemas de opção a fazerem cursos nos quais tem escasso interesse. Isso causa um enorme desperdício de verbas publicas em departamento inchados por pessoal pouco produtivo que dificulta o trabalho dos professores e funcionários competentes e dedicados. Pior, a formação dos engenheiros é muito inferior ao que a Escola Politécnica tem capacidade de fornecer, e o aproveitamento acadêmico é prejudicado. Para finalizar, um exemplo típico
da mentalidade corporativista que leva a uma má administração universitária pode ser
encontrado no programa proposto por um dos candidatos a diretor da Escola Politécnica na
eleição que se realizará nesta semana. O candidato afirma que buscará uma fatia maior
de recursos para a USP entre as universidades brasileiras, e maior representação da
Escola Politécnica dentro da USP, sempre tratando a academia como um "jogo Atenciosamente, Felipe M Pait De: Felipe M Pait <[email protected]>Data: Quarta-feira, 17 de Dezembro de 1997 16:19 Lá vou eu de novo. Seu artigo foi citado, não lembro por quem, na reunião do Conselho do Departamento de Engenharia Eletrônica ontem. Alguns professores tentaram desconversar; que era coisa de aluno, que eles não achavam grande coisa a coluna do Nassif, que os alunos já tem representação no conselho e devem dirigir seus comentários através dos representantes, que os professores não tem obrigação de ler o Condutor, que levaram as criticas para a imprensa só para aparecer, que era a opinião de um aluno só.... coisas assim. Mas uma grande parte dos professores não pensa assim. Eu coloquei a minha posição: que mesmo se não concordássemos com as criticas dos alunos, com as quais eu pessoalmente concordo, nos professores somos pagos para dar um bom curso; e que criticas pesadas são evidência de insatisfação. De qualquer forma, acho conveniente
e útil que você e seus colegas encaminhem aos conselhos dos departamentos, através dos
representantes discentes, críticas construtivas, pedidos, e A colaboração dos ex-alunos é fundamental: os atuais alunos não têm suficiente perspectiva, têm às vezes receio de se exporem, e muitas vezes são "comidos vivos", apenas dois entre trinta professores. Muitas idéias serão torpedeadas, ou por exigirem infra-estrutura (por exemplo, computadores para todos os alunos, como você disse em seu artigo); ou por ameaçarem o status-quo (por exemplo, matérias eletivas interdisciplinares). Uma grande parte dos professores é simpática aos alunos, embora ainda haja um grande numero de picaretas, especialmente em posições de poder. porém, muita coisa pode ir adiante se for bem encaminhada; o clima está mudando, e tem um movimento "get the rascals out" no ar. Felipe De: Daniel T Piza <[email protected]> Caro Julio, Congratulations! Sua observação para o Nassif é perfeita. Esses acadêmicos estão cada vez mais parecidos com burocratas, ou com aqueles funcionários públicos de cabelos nas ventas que Nélson Rodrigues descrevia... Estou cada vez mais convencido que o problema brasileiro é a incapacidade de organização. Sacuda a poeira! Um abraço do Daniel Piza De: Silvio Jose Sarraf Borelli <[email protected]>Data: Segunda-feira, 22 de Dezembro de 1997 10:20 Julio, Demorei a ler meus mails, mas vi a sua aparição na coluna do Nassif. Gostei. São raras as oportunidades em que alguém de fora do contexto de um determinado problema se dispõe a divulgar seus detalhes. Ignoro como o Nassif veio a se aperceber do seu artigo no Condutor e, através dele, tomar conhecimento do dia a dia da Poli. Realmente, o "como" pouco importa. O que conta é que a nossa realidade, através das suas palavras, chegou aos olhos dele e atingiu terreno fértil. Sou muito grato à Poli pelo que ela ajudou a formar, mas acho que o caminho trilhado poderia ter sido mais humano. Dói muito saber que foi de debaixo das pilhas de escombros que se acumulam nas nossas salas e nas dos nossos professores é que nós rastejamos para fora. Somos, você, eu e nossos colegas, um time de fortes e vencedores por termos alcançado o fim. Isso é motivo de orgulho. Não estaria, porém, menos orgulhoso se tivéssemos passado esses anos de curso em salas de aula decentes, professores melhor remunerados e didaticamente instruídos, prédios em estado que não o de decrepitude e menos funcionários dormindo sob a sombra das árvores das malsucedidas tentativas de jardim da faculdade ao invés de cumprir suas funções. Dói ver a Poli assim maltratada, mas o que realmente me atinge é que, apesar de tudo, ainda produz profissionais os quais as empresas disputam com ferocidade, mesmo para cargos onde a engenharia fica em aparente segundo plano. Meu receio é que isso talvez não dure muito tempo. Dessa forma, chegará o dia em que a qualidade do ensino de lá se equiparará ao de outra faculdade. E, em seguida, descerá um degrau. E depois outro. E mais outro. Aí já será tarde de mais. Assim, fico feliz que o Luís Nassif tenha ouvido suas palavras enquanto é tempo. Valeu o esforço. Grande abraço, Borelli De: Gustavo Barros <[email protected]> E aí "seu" Julio, como andas? Recebi o seu artigo e gostei bastante, mas eu não cheguei tão perto assim de concordar com tudo. Muito do que me levou a gostar dele foi o fato de você ter tomado uma atitude e soltado aquilo que você tinha para falar, coisa que pouca gente tem coragem de fazer (independentemente de estar "praticamente livre dos tentáculos da POLI"). Acho que o maior problema do artigo (que também não é tão grande assim) está no seu diagnóstico do porquê acontece o que acontece na POLI. Na minha opinião o maior problema são os alunos, tudo que a maioria faz é grunhir para o colega do lado (na verdade para si mesmo) uma infinidade de reclamações e críticas pouco construtivas, e o colega do lado responde no mesmo tom (eu me encaixo perfeitamente neste grupo). Você diz: "Por quê os politécnicos não reclamam? Ora, muito simples: como um aluno com um, dois, ou até cinco ou seis anos de Poli vai mudar uma estrutura que se mantém imutável há cem anos??" Ora, não me venha com essa, os alunos não mudam nada porque não procuram mudar (lógico que sempre há exceções, mas são tão poucas), a falta de união, e está aí um aspecto importante da coisa, não traz um conjunto de atitudes consistentes que poderia mudar a imutável estrutura. De uma só vez? Claro que não, grandes problemas dão muito, muito mesmo, trabalho para resolver, e quem é que quer ter todo este trabalho por algo que nem gosta? (Quantos não abominam a POLI?) Um bom exemplo vem na minha cabeça quando você fala: "E nós, alunos, não pedimos nada de absurdo. Não estamos falando em ar condicionado e nem em salas acarpetadas, equipadas com televisão e videocassete (vide FGV)." Salas com ar condicionado, acarpetadas, com TV e vídeo na FGV, que não é de graça, foi conquista dos alunos. O DA da FGV foi atrás de patrocínios (aliás, que idéia!), e a grana para esse conforto extra veio daí. Os Politécnicos são menos capazes? Tenho certeza que não são nem menos, nem mais. Agora, quantos dos seus mais ou menos 5000 alunos colaboram com instituições acadêmicas? Será que chegam aos cem? A isso se acresce o fato de que, na minha opinião, projetos realmente bons e sérios, como o Cursinho da POLI, a SAPO ou o Curso de Línguas da POLI, só costumam vir do Grêmio, os centrinhos pouco nos dão mais que o espaço que lhes é reservado (eu também não posso crucificar ninguém, eu nunca soube quanto dinheiro eles tem na mão para realizar algo, tempo eu sei que eles tem pouco). Falar mal dos professores é fácil, eu já acho que eles estão fazendo bastante em estarem por ali (bastante, não o suficiente). Digo isso porque meu pai dá aula na Pinheiros e eu sei o quanto ele ganha (uns mil e poucos reais trabalhando meio período, com doutorado, muitos anos de praia e bastante tarimba). Eu proponho que, ao invés de reclamar do professor que não prepara a aula para você, quando ele tiver preparado, vá até a frente da classe e diga: "Obrigado pela aula prof.". Eu não sou tão radical assim, só estou botando você para pensar pelo outro lado, mesmo porque eu conheço poucos professores santos. Ah, quanto aos laboratórios eu não acho que eles devam ser optativos e sim bem dados, como tantas outras disciplinas teóricas requerem porque, meu caro, certas coisas só se aprende fazendo. Concordo em gênero, número e grau com praticamente todo o resto, achei fantástico também você ter falado sobre o lixo na POLI, porque é uma coisa da qual pouco se fala e é um negócio bem sério na verdade. Acho que é isso aí. Um abraço, Coruja De: Susana Bragatto <[email protected]> Oi menino persistente!!!! Não agüento mais receber forwards de e-mails que você recebeu em repercussão àquele artigo. Eu quieta fiquei e agora só estou escrevendo não por ter mudado de idéia: nunca desconsiderei o que você escreveu, espero que entenda isso. Quando você chegou à redação do JC, falou com estudantes desesperados com matérias e a experiência inédita de produzir um jornal por conta própria. Não é bolinho!!! Eu e outras pessoas lemos tudo o que você escreveu. Mas o espectro de coisas que a gente tem que dar conta é tão absurdo, tão tudo ao mesmo tempo agora, que muito do que pode estar sendo importante pra um grupo de pessoas, que vive determinada realidade, parece de repente estar sendo desprezado por nós, projetinhos de jornalistas donos-da-verdade que delegam sobre o que querem escrever ou não. E é aí que a tua atitude ganha mais valor. Você não esperou ninguém fazer nada por você e correu atrás do que acreditava, tentou divulgar, discutir, tentou mudar. Aliás, uma vez você me assustou quando disse que não queria mudanças, e sim queria que todo mundo soubesse do que acontecia na afamada Politécnica mas eu sei que você sabe que eu sei que você sabe que o buraco é bem mais embaixo e bem maior do que isso! É um espelho. Dou a maior força pra toda essa força. Beijão, Susana De: José Ricardo
de Oliveira <[email protected]> Caro J. D. Borges, Sou Politécnico do Quinto Ano de Elétrica (Computação) como você era até alguns meses atrás. Fiquei muito contente pela sua "reportagem" retratar tão fielmente nossas vidas. Parabéns! Eu li o Texto (com letra maiúscula) primeiro no nosso querido Condutor. Depois, nesse semestre, li uma coletânea de textos comentando o seu, inclusive o do Luis Nassif, num caderno que um amigo meu tirou xerox do Birigui. Vou até escrever para esse Condutor que para os interessados tenham uma cópia desse caderno no Xerox. Será que você poderia passar uma cópia do artigo para que eu possa guardar de recordação? Abraços Zé Ricardo De: Henrique
Soarez <[email protected]> Acabei de "voar" pelo seu compêndio. Parte do seu texto eu já tinha lido em outras oportunidades. O que me surpreendeu foi a discussão saudável que dele saiu! Realmente, eu nem esperava que algum professor gastasse o tempo necessário para escrever um mail sobre o assunto. Apesar do sentimento de "ainda bem que já passou", fiquei muito alegre por ver que alguém se preocupa e obtém resultados! Apesar da Poli não ter nos dado a formação "generalista" que você acha necessária, não vejo nisto nenhum problema. A função da Poli não é educar para o convívio social, ou mesmo para a administração de empresas. A função da Poli é criar (a.) engenheiros e (b.) profissionais com excelente gama de habilidades analíticas. Para criar engenheiros, o convívio humano com aqueles que apreciam a diversidade de gostos ajuda, mas não é necessário. Para criar o segundo tipo de profissional, basta que o objeto da preparação (o aluno) esteja com a mente aberta e consciente daquilo que busca. Se o aluno simplesmente vê todo o esforço do Cálculo Numérico e da Mecânica dos Fluídos como "tempo perdido, sem nenhuma aplicação futura", realmente perde tempo. Agora, se vê as horas gastas fazendo relatórios para o Laboratório de Física como investimento e exercício mental, então consegue passar pelos 5 anos da Poli com uma atitude positiva que multiplica em muito o seu aprendizado. Existem problemas com a Poli? Sim, sem dúvida. Contudo, eu acredito que a escola não deixa de ser essa "academia de musculação mental" que o mercado tanto valoriza... Um abraço. De: Érico Marui
Guizzo <[email protected]> J. D. Borges, Meu nome é Érico, estou no quarto ano da Elétrica. Eu já havia lido o seu artigo no Condutor, mas não sabia das repercussões que tinha tido (aliás, como sempre, os alunos nunca sabem de nada!). No inicio deste ano, o Birigui me mostrou a compilação que você fez e eu tirei uma cópia no xerox do Luis. Não vou dizer que concordo com tudo o que você escreveu, mas esse não é o ponto: seu mérito está em ter tido a "iniciativa" de expor suas idéias, não importa o que falassem e achassem. A crítica foi extremamente válida! Gostaria então que você soubesse que a sua revolta com muitos aspectos de nossa escola é compartilhada por muitos outros politécnicos que tem realmente vontade de mudar alguma coisa e não vão ficar simplesmente com a bunda colada na carteira tomando na cabeça. Acho que a "Poli como ela é..." não deveria acabar no esquecimento, apesar de todos os seus esforços em continuar divulgando a mesma. Minha sugestão é colocar uma versão na Web, para que alunos e professores que ainda não conhecem o documento possam lê-lo. Coloco-me à disposição para ajudá-lo no que for preciso. Se me passar o arquivo Word, eu mesmo prometo fazer o trabalho. O fato é que eu e alguns colegas estamos numa fase de revolta com algumas coisas que acontecem na gloriosa Politécnica. Deve ser mais ou menos o que aconteceu com você no ano passado. Não nos conformamos em ficar de braços cruzados apenas, embora saibamos que é muito difícil mudar qualquer coisa na Poli. Mesmo depois de tanta reclamação, mesmo depois do seu texto, ainda falta papel no banheiro, não é triste? Acho que os alunos têm que aprender a se mobilizar, a exigir, a se organizar! Por exemplo: muitos alunos não sabem que têm direito a estarem presentes durante a revisão de uma prova, segundo consta no Regimento Geral da USP. Sem falar nos professores que desrespeitam o prazo de 7 dias entre a divulgação de notas de uma prova e a aplicação de outra prova. Ou o barulho insuportável que estão fazendo no telhado da Elétrica em pleno horário de aula. São coisas "bobas" que nem essas que os alunos não devem aceitar. E um começo para isso é começar a divulgar informações. Acho que o texto "A Poli como ela é..." é leitura obrigatória para qualquer politécnico que não seja um conformado na vida. Abrindo parênteses, falando em conformismo, visite: http://www.lsi.usp.br/~emguizzo/cabecao/cafe_soluvel.html Eu já pensei em largar a Poli para fazer Jornalismo... Na minha turma, tenho colegas que largaram a Poli e foram para a FEA, ECA e Psico. Eu acho que os politécnicos se dividem em dois grupos: aqueles convictos, que optaram por engenharia sem ter dúvidas quanto a essa escolha, e aqueles que pensaram em fazer outros cursos, mas acabaram fazendo engenharia. Algumas constatações imediatas: os politécnicos do segundo grupo são aqueles que se indignam, que se revoltam com os absurdos da Poli e que tentam, de alguma forma, mudar as coisas. Os do primeiro grupo são mais acomodados, vão tocando a vidinha de "polinerd" sem maiores preocupações e sem grandes aspirações. Além disso, aqueles que largam a Poli em sua maioria fazem parte do segundo grupo. Descobrem que a Poli não era nada do que esperavam e vão atrás do que procuram (certos eles!). Abraço, Érico P.S.: Veja como alguns politécnicos já estão se revoltando, dê uma olhada nesta página: http://www.geocities.com/Augusta/5695/ De: Erico Marui
Guizzo <[email protected]> Oi Julio, Erico |