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Caro Julio,
Também tenho alguns comentários sobre seu artigo que criticava o simpático Fight the
Future.
Inicialmente, a técnica de predição linear não é um sistema gerador de sons que
utiliza algumas freqüências de onda fundamentais para gerar uma combinação programada
de sons. Na verdade, ela é um mecanismo de compactação de dados, muito utilizada para a
transmissão de informações digitais que sintetizam sinais aproximadamente contínuos no
tempo. A fim de refrescar sua memória, vamos a um pequeno exemplo:
Supondo que temos que transmitir a seguinte seqüência de números de 8 bits:
100, 105, 110, 115, 119
Poderíamos utilizar um algoritmo de predição que estima o próximo número à partir
dos dois últimos dados recebidos (poderíamos utilizar algoritmos mais complexos que
traçam uma reta média utilizando os últimos n pontos). Vamos assumir também que nunca
esperamos um erro de mais de 8 pontos (em módulo) à partir da reta de predição.
Definido nosso modelo de predição, precisaremos transmitir apenas dois números de 8
bits (100 e 105). Depois disso, transmitiremos apenas números de 4 bits contendo os erros
da predição. Os par 100/105 nos permite inferir que o próximo número é 110. Como esse
é mesmo o número que queremos enviar, enviamos um 0 (não houve erro na predição). O
par 105/110 nos deixa concluir que o próximo número é o 115, mais uma vez, enviamos um
0. O par 110/115 nos leva a crer que o próximo número é o 120. Como isso não é
verdade, transmitimos um -1 para corrigir a estimativa do preditor. O par 115/119 nos faz
permite dizer que o próximo número será 123. Isso é predição linear. Um método que,
eventualmente, é utilizado na transmissão de sinais de voz.
Sua analogia cromática também foi um pouco confusa. Não apenas porque a predição
linear não se utiliza de matizes básicas para a geração de "tonalidades"
intermediárias, mas porque as cores primárias são três (e não sete). À partir do
amarelo, azul e vermelho você pode criar qualquer cor (preto e branco não são cores).
Assim, o roxo presente no arco- íris, pode ser gerado por uma simples combinação de
vermelho e azul. Na verdade, o arco- íris não tem sete cores, pois ele é a
decomposição contínua da luz branca. O arco- íris tem infinitas cores mas sabemos dar
nome a apenas sete delas (o marron não aparece lá por ser um defeito neurológico
restrito a uma faixa de freqüências muito estreita para ser percebida num arco- íris
já bastante estreito).
Agora que já deixamos claro que você não sabe nada sobre ciência, vamos discutir sobre
o seu pouco conhecimento a respeito de Arquivos - X.
Se eu entendi bem, sua principal crítica era a respeito do grande número de clichês
utilizados no filme. Como você não sabe muito sobre a série, tal colocação é
excusável. No entanto, deixe- me colocar um pouco de luz sobre os seus comentários.
X- Files é uma série de cinco anos baseada, principalmente, no mistério do caso
Rosewell (acho que é assim que se escreve. De qualquer forma, é o caso do oficial da
aeronáutica que disse ter encontrado um disco voador que na verdade era um balão
meteorológico). A série sempre pretendeu estar baseada em fatos "verídicos"
(como um grande número de outros filmes de ficção científica). Isso explica porque ela
contém os já comuns elementos de paranóia e os alienígenas humaniformes com grandes
olhos negros (é um consenso entre os ufologistas que os aliens tem essa aparência).
A série nunca foi cultuada pela inovação mas pela maneira como conta histórias para
uma platéia cativa que não faz questão de novas histórias (os fãs de ficção
científica assistem Jornada nas Estrelas - A velha geração até hoje).
É verdade que uma série de concessões foram feitas para a versão "Big-
screen". Eu particularmente achei que as cenas de ação / romance não tinham nenhum
cabimento. Mas essas concessões foram feitas para agradar o público geral. Público
geral e não cinéfilos exigentes. Alfred Hitchcook, Fritz Lang, Orson Welles e Billy
Wilder tinham a sorte de fazer filmes para um outro tipo de público. Uma elite bem menor
e mais educada do que as multidões hoje atendidas pela indústria do cinema. Os irmãos
Cohen, Woody Allen e Tarentino não são realmente bem vistos pelo público geral.
Sua crítica me pareceu com uma que eu li na Folha de São Paulo dizendo que Godzilla
tinha um roteiro fraco. Isso é mais fácil do que empurrar bêbado ladeira abaixo. Guarde
sua pena para causas mais nobres. Deixe os cult movies para os seus cultuadores e o
entretenimento não pretensioso apenas entreter.
Abraços,
Brisac
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