País do Futebol

A derrota da seleção brasileira, na partida contra a França, representa, ainda que metaforicamente, toda a falibilidade de um modelo de sociedade que se arrasta por decênios afora.

Quando vamos acordar para os males que afligem não só aos nossos jogadores mas a todos os habitantes da chamada Terra Brasilis?

Desorganização

O caos reinante no campo é reflexo do caos reinante no país inteiro. Ninguém sabe que posição ocupar, ninguém cumpre com as funções para as quais foi designado, ninguém abraça objetivos verdadeiramente comuns. Assim, só fazemos tapar buracos uns dos outros --- enquanto os adversários avançam com facilidade, em meio ao eterno carnaval e a secular balbúrdia.

Autoritarismo

Não temos, desgraçadamente, verdadeiros líderes. Apelamos, outrossim, para burríssimos generalóides --- cegos, surdos e mudos de plantão. Surdos porque não ouvem a voz dos outros, mudos porque não sabem o que é dialogar, e cegos porque, apesar de subjugados pela inegabilidade dos fatos, insistem em antiquíssimos pontos-de-vista, em opiniões de amargar.

Individualismo

A exemplo do que acontecia nas eras Colonial, Imperial e Republicana, nossos heróis permanecem solitários. Não existe tradição, não existe formação, não existe escola de grandes homens no Brasil. Os raríssimos talentos daqui brotam sem que nenhum sociólogo consiga explicar. Morrem por pressão, por estresse, por convulsão --- ou por o quê se quiser alegar.

Não se consegue montar o "dream team" do futebol. Nem equipes imbatíveis em tantos outros setores nos quais temos, igualmente, vocação pra ganhar.

Favoritismo

Quem não sabe perder, não sabe vencer. A vitória previamente anunciada trouxe a derrocada de inúmeros dos nossos navios. No entanto, a mídia, o povo, a elite, os ídolos e craques não aprenderam essa lição tão desgastada: quem posa com troféu, quem senta em cadeira de cargo a ser ocupado será, indubitavelmente, derrotado.

Comodismo

Quem se deita eternamente em berço esplêndido será massacrado (ao som do mar e à luz do céu profundo). Os nossos players têm de ser, por nós, arrastados. Como mulas, movem-se graças à berraria e ao gestual desesperado de lúcidos capitães, como Dunga.

Perdemos a final da Copa. Perderemos também o fim de século?

Conformismo

As desculpas pipocam em toda a parte e o brasileiro aceita com parcimônia e passividade. Não se apura e nem se verifica de quem é a culpa. Ninguém assume irresponsabilidades. Sacrifica-se um time inteiro, uma nação inteira --- pela insistência em amarelados Ronaldinhos.

Poucos os que se prontificam a refutar.

Até quando vamos engolir os mesmos usurpadores de sempre?

J. D. Borges