Curriculum Vitae Há
dois anos atrás, eu começava a enviar os meus textos pela internet, através
de e-mail, com a pretensão de me tornar um grande jornalista. Até
hoje me perguntam: você nunca pensou em fazer jornalismo? nunca quis entrar
para um grande jornal? uma grande revista? Confesso
que até quis, mas acabei me desiludindo com todo o “lobbismo”, todo o
corporativismo, todo o personalismo que caracterizam a prática do jornalismo no
Brasil. Cansei
de enviar meus trabalhos para todas aquelas personalidades e para todos aqueles
periódicos que vocês conhecem, sem jamais receber um único e escasso convite
para escrever em qualquer um desses lugares. Por
outro lado, a culpa foi também minha pois eu nunca quis fazer "faculdade
de jornalismo" e nem quis abandonar meu canudo de "engenheiro politécnico"
para me arriscar como "foca" numa redação qualquer. Independência ou
Morte
Assim,
continuei nas minhas atividades de periodista independente e fui desenvolvendo
minha escrita, meus temas e meu público. Hoje,
olhando para trás, me sinto plenamente feliz por ter escrito o que escrevi, por
ter recebido o reconhecimento que recebi, por ter construído uma
"obra" que está além das contingências temporais de quem escreve
textos para embrulhar peixe na feira. Fora
que, num periódico qualquer que fosse, eu jamais teria a liberdade para
criticar quem quer que seja, para usar e abusar de termos mais
"rebuscados", expressões ou trechos inteiros em língua estrangeira,
para soltar um texto quando efetivamente me sentisse pronto, e para —
principalmente — dar giros de 180 graus, saltando de música para literatura,
de literatura para cinema, de cinema para filosofia, de filosofia para
comportamento, de comportamento para o que quer que seja, sem qualquer restrição
ou constrangimento. O
Benedito Ferri de Barros, colunista do JT, me disse, com palavras mais bonitas,
que minha produção era fruto das inúmeras socilitações da idade — e que
futuramente eu acabaria optando por uma frente entre todas essas em que me
aventurei. De
qualquer jeito, as pessoas aprenderam a me respeitar, e até mesmo a me admirar,
justamente por essa faceta que o Daniel Piza há muito tempo classificou como
"polivalência". Expectativas dos
Leitores
A
ponto de eu, hoje, ter leitores que esperam de mim determinado tipo de texto ou
manifestação de acordo com as "personas" que fui inventando. A
Zélia Duncan, por exemplo, gosta de comentar meus escritos musicais —
chegando inclusive a reclamar uma certa "postura" minha, quando não
correspondo ao que ela está esperando. Muitos,
não vou citar nomes, preferem meus ataques a personalidades e a unanimidades
variadas como Caetano
Veloso, Paulo Coelho ou
Jô Soares. Outros vibram quando
falo mal do Brasil. Outros ainda repudiam tudo isso e me idealizam produzindo
textos construtivos como Fellini e a vida-amarga-vida. Uns
me querem mais passional, outros me querem mais sereno. Uns me querem mais
atual, outros me querem mais extemporâneo. Uns me querem no jornalismo, outros
me querem fora desse ramo. E
eu, eu quero escrever. E ponto final. Mas
eu tinha que lhes contar um pouco da minha história; pois afinal é para isso
que serve um Curriculum Vitae, não é mesmo? Das Coletâneas de Textos Desde que comecei a publicar meus textos virtualmente, eles foram se acumulando e eu os organizei em forma de coletâneas, de acordo com critérios temporais, técnicos e estéticos. É um tópico que exploro longamente e detalhadamente nas respectivas seções desta homepage. De todo modo, se vocês quiserem um overview do que andei produzindo até agora, preparei um resumé com os meus maiores hits. (Excetuando-se A Poli como Ela é e os Contos que são bastante anteriores a toda esta minha fase de periodismo.) Da
Homepage
Inaugurei
esta homepage em março de 1999. Ela nasceu da necessidade que eu sentia de
apresentar meus escritos numa mostra que me permitisse divulgá-los com mais eficácia.
Vez
por outra, algum leitor novo aparecia cheio de dúvidas: quem é você? onde
escreve? quais são seus temas? qual a periodicidade? Então
eu resolvi reunir aqui informações sobre mim, enquanto expunha minha produção
de uma forma atraente e ordenada. Funcionou.
Foram computados mais de trinta mil acessos desde a inauguração do site no ano
passado. Eu fico muito satisfeito em saber que as pessoas voltam, de tempos em
tempos, para reler ou pesquisar trabalhos anteriores. Imagens
Dentro
desse espírito, decidi ilustrar minhas coletâneas com imagens e textos
introdutórios, tirando aquela impressão de "diretório de coisas
acumuladas" sem maior diferenciação. Quis
também afirmar a unidade dos temas e das obsessões (como diria o Nélson
Rodrigues). Coisa que o Valdir Sarubbi percebeu com muita sensibilidade,
dando-me desde então feedbacks muito valiosos (e me indicando para o site www.jig.com.br). Photo Album e Autores Novos
Outras
seções foram abertas. Por exemplo, aquela que chamei de Photo
Album, em que
conto um pouco das minhas viagens, enquanto divulgo as fotos que tenho tido
tanto prazer em tirar (influência da Carol). Outra
que faço questão de citar é a de Autores
Novos, que deve ser uma porta para
quem quer pôr seus escritos na internet. Tem textos muito bons de gente que
merece mais espaço. (Velho problema...) Morte da Coluna
Um
belo dia eu terminei um texto bem grande sobre o Nietzsche e, de repente,
percebi que as coisas não eram mais as mesmas. Aquele trabalho me pareceu tão
mais importante que toda a parafernália da minha coluna, que eu resolvi
repensar minha trajetória e meus métodos. Já
não mais se justificavam as horas que eu despendia compondo e editando
"mensagens dos leitores", "avisos aos navegantes",
"dicas de sites", "apresentações de autores novos",
"sugestões de artigos antigos", etc. — na coluna que segue por
e-mail. Percebi
que o fundamental naquilo tudo era o texto, o meu texto. Então abandonei certas
formalidades para me concentrar na preparação e na produção (do texto). Nada
mais. Peripécias de um
escrevinhador
Muitos
reclamaram, mas, infelizmente, não posso dispor de um tempo, que já me é
escasso, corrigindo formatos e esquentando a cabeça com intermináveis sessões
de copy/paste. Se
eu contasse para vocês dos tantos almoços que eu passei escrevendo, das
noites, das madrugadas, dos fins-de-semana. Sem falar nas épocas excessivamente
atabalhoadas no ABN AMRO Bank, em que eu me espremia em intervalos exíguos, em
que eu completava frases dirigindo o carro, em que eu revisava textos no
banheiro, em que eu acordava uma hora mais cedo para finalizar um artigo, crônica
ou ensaio. Sem
falar, claro, nos problemas técnicos, nas vezes em que fiquei sem computador,
nas vezes em que fiquei sem telefone, nas vezes em que transportei minha CPU
para a casa da Carol e mandei tudo de lá, pegando sua linha e sua paciência
emprestadas. É.
Esta história tem sido uma história de verdadeiro amor à arte. Revendo J. D. Borges
Neste
embalo de revisionismo, decidi mudar minha assinatura de “J. D. Borges” para
“Julio Daio Borges”. Em primeiro lugar, porque “Borges” existem aos
montes, e “J. D.”, alguns tantos. Em segundo lugar, porque “Daio” é um
apelido carinhoso de infância (criado pelo meu irmão Diego), sendo que não
conheci nenhum outro “Daio” até agora. Além
do mais, a mudança de nome institui definitivamente aquele foco maior no texto
(de que falei),
abrindo mão de toda e qualquer tralha secundária. Do
mesmo modo, estou revendo esta homepage (já um website), e reescrevendo o meu
Curriculum Vitae pois penso que o anterior estava muito desatualizado. Vamos
ver no que dá. Agradecimentos
Quero
agradecer, primeiramente, à Carol, minha revisora e cúmplice em todas as
horas; a meu pais, Maria del Carmen e Vitor Hugo, os mais fiéis e estimulantes
leitores que conheço; também a meus irmãos, Carolina e Diego, aos meus amigos
e demais familiares que, de quando em vez, surgem com uma palavra de apoio ou um
puxão de orelha necessário. Agradeço
igualmente a vocês, leitores, hoje, ontem e sempre. Nos
vemos por aí, 9
de agosto de 2000. |